sexta-feira, 25 de março de 2011

Meet me in the morning



- Será que eu estou ficando louca? - Ela disse enquanto entrava em um quarto e via a si mesma sentada no chão mexendo em alguns discos.
- Isso depende. Você continua tomando seus remédios? A psiquiatra disse que isso ia te manter longe dos seus devaneios. - A outra ela respondeu ainda prestando atenção nos discos.
- Então isso é um sonho?
- Bingo!!

Ela estava bem confusa, mas já que era um sonho não se importou de tudo aquilo parecer muito estranho.
Logo reconheceu o lugar. Estava em seu quarto, mas ele estava diferente. Não tinha janelas, nem luz. Mas dava pra ver as coisas com clareza.

- Posso sentar ai com você?
- Você que sabe.

Ela entrou devagar e sentou ao lado dela mesma.

- Porque eu estou sonhando comigo?
- Eu sou você lembra? Acho que não sei responder isso.
- E você está aqui por algum motivo?
- Eu não lembro de ter comprado esse disco - a outra ela levantou o vinil do House Martins e mostrou pra ela. - Quando você comprou ele?
- Ué. Mês passado. Se você sou eu deveria se lembrar!
- Eu sou o seu antigo eu. Aquele que você deixou de lado há bastante tempo.

As coisas começaram a fazer um pouco mais de sentido. Afinal a outra ela era mais bonita de certa forma. Ainda tinha os cabelos compridos, uma expressão calma e olhos inocentes.

- Mas como assim eu te deixei pra trás?
- Acho que foi há alguns meses quando você deixou de acreditar em tudo.
- Isso quer dizer que você é minha consciência?
- Não. Se eu fosse sua consciência teria dito pra você não cortar o cabelo. Eu sou mais uma lembrança.
- Mas meu cabelo está feio?
- Não. Só está muito curto.

A outra ela levantou e começou a olhar os livros na estante.

- Porque aqui não tem janelas, nem luz?
- Acho que aqui é sua mente. Porque os livros que você ainda não leu estão com as páginas em branco. - A outra ela virou e mostrou as páginas. O livro tinha capa, mas nada escrito. - Já os que você leu tem tudo escrito. Viu?
- Mas se essa é minha mente deveria ter muita luz. Sempre adorei janelas abertas.
- Aqui costumava ser bem iluminado.
- E o que fiz de errado pra ficar tudo escuro desse jeito?
- Eu acho que você fechou sua mente para o mundo.
- Eu te prendi nesse escuro só por que deixei de acreditar?
- Sim. Mas a culpa não é sua. Ao menos espero que não seja.
- Me perdoe por te prender aqui. Temos medo do escuro.
- Sim, mas se você imaginasse uma luminária já seria de muita ajuda!
- Claro! - Ela fechou os olhos e lembrou de uma luminária que ganhou quando tinha 14 anos, com uma luz bem colorida. Logo o quarto ficou bem iluminado.


Elas sentaram juntas novamente e começaram a conversar.

- Você ainda é feliz como costumavamos ser?
- Acho que não. Pelo menos ultimamente tudo está dando errado.

A outra ela fez uma expressão de que entendia porque ela tinha o rosto tão triste agora. Como se carregasse muitos pesares nos ombros.

- Você ainda gosta dele?
- Não.
- Que bom. Porque se ainda gostasse eu teria que conversar com a sua consciência pra ela te convencer de que ele era o cara errado.
- Mas somos a mesma pessoa. Você também gostava dele!
- Na verdade não. Eu sempre soube que não daria certo, mas nós acreditavamos que eramos felizes . Por isso que se arrastou por tanto tempo.
- Não falo mais com ele. Só pra você saber!
- Ah que bom! Mas e agora? Você gosta de alguém?
- Eu queria muito gostar de alguém. Mas acho que não acredito em sentimentos.
- Se você me tirasse daqui voltariamos a ser a mesma. Afinal você deve saber que todos os seus sentimentos estão guardados comigo.
- Que bom que eles não se perderam. - Ela sorriu. Mas não era um sorriso muito feliz.
- Você tem sorriso desse jeito ultimamente?
- Como?
- Como se nada no mundo fosse motivo pra sorrir?
- Eu tenho motivos pra sorrir.
- Eu sou você, não se esqueça. E nós não sabemos mentir muito bem.
- Será que eu vou ser como era antes?
- Eu espero que sim. Não gosto de ficar presa aqui.
- Eu sinto sua falta dentro de mim.
- Eu também sinto a sua. O mundo é bonito demais pra eu ficar longe dele.

Ela levantou e ajudou a outra ela a se levantar.

- Só tem uma coisa que eu não entendo.
- Se você não entende acho que também não vou entender. Mas o que é?
- Por que eu deixei de acreditar nas pessoas e no meu próprio coração.
- Eu sei de uma coisa.
- O que?
- Enquanto eu ainda morava em você acreditavamos em tudo isso. E podia não parecer, mas eramos muito felizes.
- Eu prometo que vou dar um jeito de voltarmos a ser a mesma.
- Posso só pedir dois favores?
- Sim.
- Acho que você deveria pintar essa parede e talvez colocar um poster bem grande do Darth Vader bem aqui - A outra ela indicava a parede branca perto da porta.
- Fiz isso semana passada!
- Bem que você poderia ter sido mais detalhista nesse sonho né?
- Desculpe. E qual é o outro favor?
- Seja menos grosseira. Todo mundo sabe que você não fala de romantismo e não gosta de demonstrar afeto, mas não precisa dizer que tudo é bichisse ok?
- Você não disse que ia pedir algo impossível.


Elas riram e uma luz muito forte acendeu. Ela viu uma janela aberta bem em frente ao seus olhos. O quarto estava muito iluminado e ela sabia que tinha acordado.




p.s. da autora.
As vezes nos perdemos quando tudo o que queremos é nos encontrar.
Se o seu verdadeiro eu está preso, ao menos deixa uma pequena luz entrar.


- @JessyMcLovin

3 comentários:

  1. - Porque aqui não tem janelas, nem luz?
    - Acho que aqui é sua mente. Porque os livros que você ainda não leu estão com as páginas em branco.

    (a vida é um papel em branco... desenhe. igual aquela propaganda que vi uma vez. é. ^^)

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