terça-feira, 21 de dezembro de 2010

sobre o tempo

pro tempo engatinhar do jeito que eu sempre quis.

- Vamos quebrar esse seu maldito relógio? – ele disse no meio da música, enquanto as luzes brincavam na minha pele.

Não consigo viver sem olhar meu relógio branco de pulso, estou presa no tempo, nas horas, nos minutos, no Sol que se vai e na Lua que chega.

Eu criaria dias maiores, os dias de trabalho teriam horas reduzidas e os dias para viver livremente sem se preocupar com nada teriam 40 horas. Assim, eu veria todos meus amigos, dançaríamos todas as musicas e beberíamos todos os shots de tequilas que agüentaríamos. E riríamos sem nos preocupar em voltar pra casa porque demoraria muito ainda pra amanhecer.

Eu daria mais horas pra vocês não fazerem nada ou lerem alguma coisa legal. Pra aprendermos mais palavras novas no dicionário, para olhar vitrines, escolher filmes e falar sobre vinis. Menos tempo no trânsito pra assim você conseguir entregar aquele livro do Pequeno Príncipe que você carrega debaixo do braço pro seu verdadeiro príncipe.

Tempo pra poder aprender a dirigir, pra poder fazer dinheiro, limpar a bagunça do quarto, armário e do carro. Pra pintar as paredes da cozinha, pra xingar mais, pra escrever cartas e enviá-las. Mais tempo pra ficar na sala vendo novela com a minha vó, mais tempo pra criar coragem e dizer todos os dias pra minha mãe que eu amo, de verdade. Mais tempo pra inventar piadas estúpidas com meu tio e minha prima.

Mais tempo pra sermos felizes, pra você se maquiar e escolher uma roupa adequada pro seu encontro de hoje à noite. Mais tempo para ver os amigos durante a semana, para fugir pra ver o mar, pra jogar vídeo-game, passar horas naquela fila do cinema e responder e-mails. Mais tempo pra reprimir as palavras lacradas dentro de mim, pra ficar no sofá vendo filme enquanto o Sol bate na janela e dar conselhos. Mais tempo pra ser um pouco menos fria, pra inventar novas manias e controlar a risada escandalosa.

Tempo para atravessar o mundo e tirar uma foto com anões de jardim, para ir até aquela cidade e dizer na cara dele que aquele beijo que ele te deu deixou um gosto amargo na sua boca. Tempo pra diminuir a distância entre um abraço e outro, pra contar minha vida para pessoas desconhecidas e pra ficar conversando besteira pelo telefone.

Criar mais tempo pros amores encontrarem seus lugares, os lugares que chamarão de lar. Mais tempo deitada no sofá, mais tempo para tirar uma soneca antes de ir trabalhar, pra atualizar minha vida e pra cortar meus cabelos. Pra comprar all star, sandálias e vestidos floridos, ingressos para aquele maldito show, churros e cerveja gelada que mata o calor.

Horas e minutos pra você planejar seu futuro, tomar café com seus novos amigos, se perder na Av. Paulista e pra matar saudade bebendo uma coca-cola gelada. Pra rirmos mais com historias contadas dentro do ultimo vagão do trem, pra dançar (sem saber) música dos anos 80, pra chorar sem motivos e sorrir enquanto seca as lágrimas.

Quebrar os despertadores e os relógios só pra você ficar mais tempo conversando na calçada com seus vizinhos, comer pizza com sua família e tirar fotos com seus amigos da escola, aqueles que você não vê há muito tempo, por causa do tempo.

Mais tempo para terminarmos aquele livro, pra acabarmos de contarmos aquela história maluca pelo messenger e pagar as contas. Escolher roupas novas, o que comer e o que sonhar acordada deitada na cama.

Pedir pra mãe mais 10 minutos dormindo, conversando ao telefone, tomando banho, se arrumando, dando amassos dentro do carro, usando o pc ou vendo aquele desenho.

Mais tempo pra inspiração ficar, mais dias dourados, mais dias de folga e tempo para as compras de Natal. Mais tempo na casa da amiga só pra acabarmos de beber aquele vinho que compramos, pra contar pra minha mãe sobre meu trabalho e tempo para acabarmos de jogar Uno enquanto vemos aqueles shows com roqueiros loiros e sarados. E mais tempo pra não nos importarmos em perder a hora, a carona e o último metrô de volta pra casa só pra poder sentir os lábios de alguém pela última vez na noite. Mais tempo pra dar 00h00, mais tempo nos abraços, comer torta de morango, brindes e 18 anos.

Tempo pra vivermos o verão, sem restrições e sem relógios.

p.s. da narradora:

achei correto escrever sobre o tempo nesse primeiro dia de verão – mesmo que o Sol não esteja brilhando por aqui, não quer dizer que não seja verão e que ele nunca mais vai brilhar.-, e no aniversário do blog, afinal, aniversário é algo nostálgico, até para um blog.

Eu nem tenho palavras bonitas e bobas pra falar sobre o 1º ano do DNME. Só sei que sinto um orgulho imenso por estar aqui compartilhando minhas palavras e sentimentos com vocês. Continuem bonitos, continuem se apaixonando, rindo e bebendo (suco ou cerveja), que nós continuamos por aqui escrevendo essas palavras tortas e um tanto bonitas pra vocês.

Cá entre nós, não deixem o verão pra mais tarde,

@PriiiG

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

pra você, querida

ou pra você que é de sagitário.

Eu poderia de muitas formas pedir desculpas pela coluna de dias até escrever essas palavras bobas minhas hoje aqui, acontece que você já sabe como eu sou displicente, e se não respondo e-mail, escrevo cartões ou telefono é porque falta tempo e sobra preguiça.

Eu criaria um dia de 36 horas só pra nós duas, você me contaria a sua vida de agora e eu te contaria todas as histórias que tenho vivido no trabalho. Eu juntaria nossos bairros e criaríamos a nossa cidade, cheia de casas coloridas bares, cinemas e docerias. Mais shows do Paul aqui e toda sexta-feira show da Cachorro Grande, porque todo mundo precisa de um capricho e homem usando gravata tocando rock.

Eu quero dizer que quero que você seja feliz, meu Deus, como eu quero isso. Que você sempre me mande e-mails com capítulos daquele livro que tentamos escrever e e-mails com desabafos, pois você sabe que eu tenho um dom especial pra dar conselhos. E que você sempre me ajude quando eu estiver meio perdida entre relações confusas.

Vou continuar puxando sua orelha quando você soar depressiva demais e marcando cinemas que nunca acontecem- prometo, nesse novo ano fazer um acontecer mesmo-. Te mostrar músicas novas pra você se apaixonar, chorar com todos seus depoimentos, ler os mesmos livros pervertidos que você e dar pulinhos quando você me mostrar cenas dos filmes do Depp.

Não quero que você suma por causa do tempo, quero que você continue por ai, lendo minhas palavras e me dando apelidos maravilhosos. Não quero sentir saudade de você, nem dos nossos dias dourados em que só estudávamos e enchíamos a barriga de besteira nas férias. Eu quero mais tempo, mais tempo com você pra vivermos nossos dias dourados novamente. Mais tempo pra você me contar as historias românticas do mundo da música e me explicar o que não entendo na gramática.

Continuar acreditando que já éramos amigas em outra vida, que vampiros brilham no sol e que você é louca pelo macarrão ao molho branco da minha vó. Acreditar que Kate Nash sempre falará por nós quando estivermos sufocadas e que você sempre será a cópia paulista da Norah Jones.

Que você chore por coisas bobas, sei lá, chore porque seu caderno não é da moranguinho, ria por coisas mais bestas ainda, abrace mais e seja mais abraçada. E não suma, não se perca nessa imensidão de pessoas que você conhece. Que em noites turbulentas as estrelas estejam lá por você, que você vá ver o mar e faça desenhos na areia. Milhões de balas de goma pra você, músicas do Killers pra você dançar, filmes franceses e livros pra você me dar spoilers.

E ah sim! Continue se apaixonando, não se prive do amor jamais. E não se preocupe, eu sempre estarei por aqui pra te proteger de qualquer cara que você vá se apaixonar.

Seus novos anos serão lindos, vai por mim, eu acredito nessas coisas. Acredito em você, no tempo, em taças de vinhos, nos bandolins, em “homens de verdade” que usam jaquetas de couro, nos livros que lemos, nos filmes que vemos e nas coisas que compartilhamos numa janela do messenger pela madrugada.

Acredito pra sempre que dias ensolarados serão sempre nossos dias para ouvir Rooney e nos entupir de bala de goma com sorvete.

E como é sempre necessário,

Eu te amo, feliz aniversário (atrasado) minha querida amiga.

p.s da narradora:

pra você garota dos olhos castanhos.

Happy in her own little world,

@PriiiG


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Je t'aime, monsieur

O tempo foi passando sem eu perceber, e acabei encontrando dificuldades das quais jamais imanei que teria, dizer que gostei disso seria hipocrisia, mas nada me deixou mais feliz do que fazer aulas de francês.
Começaria o curso amanhã bem cedo, e eu mal podia esperar.
Estava tão animada como nunca ficara antes.Totalmente diferente do primeiro dia de aula da minha vida, aqueles dias que eu chorava sempre, esperando dar a hora certa para que pudesse ver os rostos dos meus pais.
Mas agora eu era uma garota crescida, quase uma mulher, bem, tirando o fato de ter dezessete anos. Minha vida ficou bem melhor depois que entrei na faculdade de comércio exterior, já havia pensado em inúmeras, mas só esta poderia me fazer feliz de verdade.
Comecei o curso de francês porque minha chefe havia deixado claro que talvez ano que vem, eu fosse com ela para Paris.
Paris... a cidade das luzes. Uma cidade de artistas e poetas que vivem de inspiração e papéis. Eu não contei a ela, mas um de meus sonhos era visitar aquele lugar.
Em meus catorze anos de idade, comecei a ver filmes franceses. Romances e dramas levavam-me a um martírio de lágrimas sem fim, era sempre a mesma coisa.
Um amor não correspondido ou uma morte prematura, aquilo me deixava mais do que triste, ficava arrasada e afogava minhas mágoas debaixo dos cobertores.

O dia amanheceu nublado, do meu jeito favorito. O asfalto das ruas de Porto Alegre estava molhado devido a chuva repentina que ocorreu ontem, pelas quatro e meia da madrugada. E ainda assim, gotículas caiam do céu, dançando ao colidir com as folhas verdíssimas das árvores de minha rua.
O cheiro do orvalho lembrava muito o perfume de um amigo, e parecia estar fresco em minhas lembranças.
A escola ficava a poucos metros de minha casa, sempre a via quando passava pelo caminho de ida e volta ao colégio, desejando imensamente entrar lá para matar minha curiosidade.
Agora eu não precisava bancar a curiosa, era uma aluna como outra qualquer, e acreditem, isso me deixava extremamente feliz.
Cheguei por volta das sete horas, a aula só começaria em quinze minutos.
Decidi entrar na sala primeiro, conseguindo minha carteira lá no fundo. Eu era uma boa aluna, e me dedicaria ao máximo, mas odiava ser daquelas que só sabe sentar na primeira ou segunda carteira, nada contra, é pura preferência.
Aos poucos, a sala foi ficando cheia, e para a minha surpresa, só haviam garotas lá.
Todas de minha idade, talvez um pouco mais velhas, mas a classe não passava da fixa etária de 19.
A porta soou, e uma silhueta masculina apareceu, para meu alívio, talvez eu não fosse encarregada de ter o título de “aparentemente mais jovem”, um de “o único menino” seria alvo de atenção.
Mas o homem não sentou em carteiras, dirigiu-se para a mesa do professor, colocando os pés nela.

─ Bonjour

Por reflexo, levantei meu rosto na direção do som de sua voz. Então ele era o professor? Um cara que não tinha mais de vinte e cinco.
Ele acompanhou o meu olhar, como se pedisse para eu que retribuísse sua saudação.

─ Quel est votre nom?

─ Julia.

─ Jullie ─ Ele disse, usando um sotaque tão bonito que minhas mãos soaram.
E não era apenas o seu sotaque que era bonito. Ele não era comum, estava fora dele. Seus olhos eram tão expressivos, de um tom negro profundo. A pele branca e os lábios rosados o presenteavam com um ar tão sensual que sua postura desleixada não me incomodou mais.
Ele não precisava das regras de etiqueta para encantar alguém.

Distribuiu folhas, contendo poemas e músicas. De um lado em francês, do outro a tradução. Eu conhecia algumas músicas, mas nunca tive a curiosidade de ler os poemas. Justo os poemas ! Como fui burra.
Sabia que assim que chegasse em casa, iria ler todos os poemas que haviam sido escritos disponíveis na internet.
Um pouco antes de dar oito e quarenta, Leandro nos dispensou, e saiu antes de nós apressados.
Ouvi alguns comentários em relação a aula, outros em relação a ele e seu jeito de adolescente.
Eu imaginava que a adolescência era só uma fase, então por que ela não o deixou ? Se algo poderia deixá-lo, isto é, ao meu ver ? Impossível.
Oh sim, seu nome era Leandro. Um nome que não fazia alusão a nada, eu nunca havia conhecido alguém com esse nome, mas acredito que se conhecesse, a imagem da pessoa teria se dissipado para ser substituída pela dele.

Meu progresso nas aulas foi notável, e sem esforço tornei-me a melhor nas aulas. Animada, chegava pontualmente, sem faltas e sempre com algo novo para perguntar.
No fim da aula, ele pediu para que eu ficasse. E nosso diálogo foi mais ou menos assim :

─ Algum problema ?
─ Nenhum. Por quê ?
─ Não sei, você nunca pediu para que eu ficasse.
─ Não é nada demais, as vezes peço.
─ Hm... Então o quê é ?
─ De onde vem essa sede de poemas ? Você adora poetas, não é ?
─ Sim, é verdade. Mas nunca havia lido os franceses, agora que entendo um pouco melhor, leio um por dia, pelo menos.
─ Você escreve ?
─ Escrevo alguns, mas não são bons.
─ Eu posso ver ?
─ É para o curso ?
─ Não, só curiosidade. Você é um enigma, talvez pelas palavras, eu saiba o que está acontecendo com você.

Um baque. Ele desconfiaria que minhas mãos sempre suavam quando ele me perguntava algo? Seria uma espécie de “consulta psicológica” essa conversa?
Engoli em seco, fitando-o para absorver aquela beleza de um jeito patético. Eu sofria, cada vez que ele se calava eu sofria. Sofria com a ausência de sua voz.
Era ridículo e muito clichê, mas era certo que ele havia percebido algo.

─ Não entendo.

Ele abaixou o rosto, levantando o meu com a ponta dos dedos, era um tanto quanto alto, fizemos contato visual.

─ Por favor, me mostre.
─ Não são dignos de sua leitura.

Ele sorriu, acariciando minha bochecha com o polegar.
─ Eu posso decidir isso, não é?
─ Por que você... faz isso?
─ Não sou eu, é você. Tem idéia de como é difícil ser duas pessoas?
─ Duas?
─ Não finja que não entende, estou me sentindo humilhado por dizer isso a você sabendo que pode abandonar tudo isso por minhas bobagens. Ser poeta e ser professor soa com uma combinação particular, mas ser apaixonado e ser professor é impossível, entende o que eu quero dizer?

Afastei-me, enxergando a dor que ele sentia em seus olhos.
─ Eu entendo.
─ Não posso continuar assim, meu controle emocional é tão amador que me vejo como adolescente. Eu não consigo mais. Você se mostra tão interessante, que ao conhecê-la, vejo que é mentira, supera sua aparência. Você não pode me amar, Jullie.

Eu não podia, mas o amava. Queria dizer a ele, queria mostrar o quão meu coração dançava a cada poema lido.
Suas palavras eram de uma ternura da qual eu jamais poderia me esquecer, e eu sabia muitíssimo bem que mesmo daqui há alguns anos, eu lembraria de sua voz lendo-os.

─ Você quem não quer ser amado, mas é tarde, muito tarde. E por mais que eu veja nossos caminhos se distanciarem, você sempre estará presente em meus sonhos junto da Torre Eiffel.

E ele me abraçou, acalentando-me da maneira mais carinhosa que um homem poderia me dar. Tenho certeza que não precisei dizer com palavras claras o quanto o amava, deixei-as nítidas o suficiente para seu coração absorvê-las e guardá-las para sempre.




-@RahLovesIt

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Plunct Plact Zooooooooom

Ganhamos um dom assim que nascemos, mas ele tem prazo de validade.
Então é necessário aproveitá-lo ao máximo, pois ele dura pouco.
Alguns conseguem conservá-lo para sempre dentro de suas almas, outros o perdem antes mesmo que ele apareça.
Alguns deixam essa vida por viver com muita rapidez esse dom e outros vivem tão devagar que ele desaparece.
- Eu falo da juventude.

Como diz a musiquinha cliché: Existem jovens de 80 e poucos anos e também velhos de apenas 26.

A juventude é algo precioso demais para ser desperdiçado e vivido do jeito errado.


Faça mais amigos...mais planos
E não tenha medo de falar o que sente.
Encontre alguém para fugir com você ou fazer um filme.
Alguém para compartilhar uma trilha sonora ou alguns copos de bebida.
Alguém que te leve embora no seu disco voador e que no fim de tudo, te ajude a escrever um livro contando como foi que tudo aconteceu.
Que converse besteiras com você o dia todo e que mesmo distante está sempre perto.
Que tenham sotaque bonito e sempre ouçam o que você tem pra dizer.

Viva a juventude e deixe ela viver você.
A esperança do amanhã é o que nos faz continuar, mas só somos jovens por um dia.

Se o tempo te levar para o lugar errado, só tenha certeza de achar o caminho de volta.
E mais do que tudo, garanta que o seu coração não sirva apenas para bombear sangue.






O corajoso pode não viver eternamente, mas o cauteloso não vive plenamente.


Para o Peter Pan-Pequeno Príncipe-Dreamer da minha timeline - Matheus



- Forever young, I wanna be forever young.
@JessyMcLovin

terça-feira, 9 de novembro de 2010

don't change one thing

Tomorrow's just a song away, a song away, a song away




Seus belos 17 anos desfigurados com o término de um namoro convencional (ou não, depende do ponto de vista). Ela decide naquela noite, depois daquela última ligação que vai rasgar as folhas, os livros e calar as músicas que o trouxessem de volta. Ela entra na noite fria com sua nova camiseta do Batman, gritando ao mundo que está bem.

E na verdade, ela está bem mesmo. Nunca esteve tão bem em toda a sua vida. Sem ele, ela aprende os prazeres de se estar sozinha e de ter o coração batendo regularmente. Por ora, ela não quer mais sentir o descompasso do coração. Ela quer ser um gigante, um telescópio, um pássaro ou uma onda.


Ela quer sentir o sol em sua pele, o vento em seu cabelo e sonhar com aquele garoto da praia, aquele que ela conheceu enquanto pulava as pedras daquela praia, aquele que a resgatou enquanto ela perdida estava sentada na areia pensando o que teria que sobreviver a seguir. O garoto que fazia tudo ser mais fácil. O garoto que um dia ela se viu obrigada a fechar a porta pra amar aquele que estava separado dela por estradas.


Ela é apenas uma garota de 17 anos com um grito que pode ser baixo ainda na multidão, mas por onde ela passa deixa sua essência, seus sonhos, histórias e músicas. Ela observa em silêncio e ri em voz alta, não sabe amar pela metade e muito menos aceitar uma história sem fim.


Por muitas vezes ela é apenas uma garota que sempre olha pro relógio quando os ponteiros estão parados no mesmo lugar; como se aqueles ponteiros resumissem sua vida amorosa, ela é o ponteiro grande tentando acompanhar o ponteiro pequeno, tentando acompanhar as horas e historias daquele garoto da praia. Ela é só uma garota que expressa seus sentimentos com textos escritos na última folha do caderno, rodeada de amigos ensolarados e amigos distantes. Uma garota com o quarto abarrotado de músicas e livros que ela respira todos os dias.


Por ora, ela está feliz e sem ele, pela primeira vez em quase dois anos, ela realmente gosta da distância entre os Estados. Os amigos dizem que o sorriso dela nas fotos nunca foi tão sincero e leve como agora e lá no fundo ela sente que isso é apenas o começo, que lá no fundo ela já forma um grito mais alto e que a vida começa agora, cheia de altos e baixos. E que outros sonhos surgirão, outras modas, outras musicas, outros grãos de areia. E que depois da chuva, flores lindas crescem de vez e ai vem o sol, fazer tudo ficar bem de vez. Ela quer o sol, ela quer as noites pra sair e ver as luzes da cidade maravilhosa e dançar com o vento depois de beber um shot de tequila com os amigos e depois ficar preocupada se os pais sentiram o cheiro de bebida em sua roupa.


Ela só quer continuar dando sorrisos sinceros em fotos.


Ela senta na areia da praia, cantarolando aquela música, enumerando historias bonitas que contaram a ela, jogando um pouco da bagagem emocional no mar e sorrindo ao ver as ondas quebrarem nas pedras.
Então volta pra casa, respira as palavras de seus livros e a melodia de suas músicas. E deixa a porta aberta pro garoto da praia, e fica o esperando com um bolo, chá gelado e vestido rendado.

p.s. da narradora:

pra garota que mora no lugar mais ensolarado, porque quando foi preciso nos apoiamos uma na outra pra agüentar aquela tempestade nojenta. Pra você, garota de 17 anos, que é muito parecida comigo às vezes. E essas palavras não chegam nem aos pés das que você escreve pra nós.
E ah sim! Eu não sei escrever contos. (:


here comes the sun and I say it's all right,
@PriiiG

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Relatividade.


O tempo passa rápido.

Não importa se você esteja se divertindo ou se esteja quase batendo a sua cabeça contra a parede de tédio, o tempo VAI passar. De fato, ele já passou, corre feito louco conforme meus dedos se encontram com as teclas do teclado. Ele não para de correr, não para pra descansar pois não precisa, não bebe água ou qualquer outro líquido pra repor as energias.


Ele não sente fome.

Ele não sente frio.

Não sente cansaço, muito menos sono.

E não adianta tentar impedi-lo, isso só o fará ir mais rápido, se tentar correr contra ele, ele vai ganhar de você. Ele SEMPRE ganha. Tudo o que nos resta fazer é acompanhar o seu ritmo ou não ficar para trás, porque ele não liga pra você, não se importa se você está doente, se caiu e machucou o joelho ou se não teve horas suficientes de sono.

Não adianta evitar dormir pois, mesmo acordado, ele vai continuar a correr. O tempo é o pior zumbi de todos, não há arma que o mate, não há barreira que o pare, não há nada que possa cortar suas pernas ou prendê-lo contra a parede.

Nós somos escravos do tempo, ele não liga se temos namorados, se temos trabalhos da faculdade para fazer, se temos fome ou sono, se precisamos de um emprego ou se só queremos ficar em casa largados no sofá vendo tevê ou se queremos que a noite nunca acabasse.

A noite vai acabar, o prazo de entrega vai se esgotar, alguém vai ocupar a sua vaga de emprego, você vai querer comer alguma coisa, vai querer dormir ao ponto da exaustão física, aquele programa legal vai terminar e o seu namorado vai ficar com saudade de você.

Isso tudo é inevitável, as gerações passam, a moda muda e só o que realmente importa fica. Os cortes de cabelo se reinventam e a cada dia que passa mais eu me pergunto se devo amar ou odiar esse vilão presente em todas as nossas vidas, enquanto a resposta não vem, eu corro, porque essa é a minha única alternativa.


@Kuro_N3ko

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mamihlapinatapai


Sea Green, See Blue by Jaymay on Grooveshark

 Ela não tinha uma vida medíocre. Eu acredito...
Não estava longe dos 30 mas não estava mais perto dos 20 também.
Tinha um emprego bom, porém nunca conseguia pagar suas contas. 19 horas do seu dia eram consumidas por afazeres e as outras 5 horas ela tentava dormir.
Dessas 5 horas tentando dormir apenas 3 eram bem sucedidas.

Levava seus dias baseados na rotina que há 7 anos a consumia. Quase nunca tinha tempo pra encontrar com os amigos ou mesmo pra sentar e assistir a algum filme.
Não tinha olheiras porque no caminho para o trabalho as escondia com uma boa camada de maquiagem.
Sempre foi muito atraente, mas nunca teve muito tempo pra namorar. Dizia que era bom manter uma distância confortável de qualquer coisa que pudesse quebrar seu coração.

Aos 18 anos abandonou o que mais amava fazer, escrever. Na mesma época que começou a trabalhar.
E guardou uma frase dita a ela em um dia de muita correria no trabalho:
- Você abandonou a arte pela burocracia.
E naquele momento ela sabia que estava em um caminho sem volta.
Sem coragem pra mudar, sem tempo pra viver, sem vontade de tentar algo diferente.

Em uma quarta-feira, ela acordou atrasada como sempre, vestiu a primeira roupa que encontrou e saiu às pressas de casa. Nesse dia ela não teve tempo de fazer a maquiagem costumeira pra esconder as olheiras e nem tomou o café que a fazia despertar mais rápido.

Ainda no metro a caminho para o trabalho ela lia o mesmo livro pela terceira vez.
De repente as luzes se apagaram e tudo parou.

- Hoje é meu dia de sorte. Metro sem energia só pode ser brincadeira. - ela murmurou com os olhos ainda fixos no livro.

Passado mais de vinte minutos todos os passageiros estavam começando a ficar sem paciência, ela principalmente. Até que lembrou que estava com o seu Ipod na bolsa e isso seria a salvação daqueles minutos infinitos.

Deu play na primeira música do Velvet Underground que conseguiu achar na sua playlist. Agora aquele momento estava menos ruim.
Começou a observar o rosto das pessoas, um mais mal humorado que o outro.
Exceto um, ele era realmente muito atraente, alguém não mais velho que 24 anos mesmo tendo a barba por fazer e roupas um tanto quanto relaxadas.
Ele tinha a aparência de calmo e aquela serenidade a hipnotizou por alguns minutos. Até que ela percebeu que ele também a estava olhando e logo ruborizou. Parou de olhar pra ele e voltou para o seu livro.


Ela sentiu alguém sentar do seu lado, era ele.
Todo gentil puxou conversa sobre o que ela estava ouvindo. Velvet Underground era a banda favorita dele. Conversaram pelos próximos 15 minutos sobre tudo o que vinha a cabeça. Tinham muito em comum e o sorriso dele era algo inédito pra ela, nunca tinha visto um tão bonito.
Trocaram telefones e o metro voltou a funcionar. Ele ligou pra ela no mesmo dia e marcaram de sair na próxima semana. Passaram o resto do dia a lembrar um do outro.

Ela nunca tinha encontrado alguém tão perfeito assim e o começo do namoro foi inevitável. Descobriram que o amor estava surgindo entre eles e que só aquilo importava.
Depois de dois anos alugaram um casa e começaram a morar juntos e cinco anos depois do acaso do Metro o amor deles não diminuiu. Ainda ouvem músicas juntos e nunca falta assunto.




Mas não foi isso que aconteceu, na verdade assim que ele olhou pra ela durante aqueles segundos o metro voltou a funcionar.
As portas abriram, ela colocou o livro na bolsa e saiu em direção ao trabalho.
Ele olhou pra ela através da janela, enquanto ela sumia em meio as outras pessoas. Ele desceu 5 estações a frente.
E nunca mais se viram.





Mamihlapinatapai na língua dos índios yámanas, que habitavam a região da Terra do Fogo na Argentina, que traduz o momento em que duas pessoas se olham, ambas esperando que a outra inicie algo que desejam muito, mas nenhuma tem coragem de começar.



Cheers
@JessyMcLovin

terça-feira, 19 de outubro de 2010

pela delicadeza.

novas cores, amores e novas canções.

Modern Nature by Sondre Lerche on Grooveshark



Protesto pela delicadeza. Pela música que não tocou naquele show, pela calça jeans que estava cara demais. Protesto por não saber falar de política, por não ser um pouco mais alta. Por não poder ter um cachorro e sempre demorar pra me arrumar.

Protesto para que as pessoas entendam meu sarcasmo, minha carência e minha sinceridade. Protesto por aqueles que observam em silêncio, pelos desenhos da minha infância que não passam mais na TV, pela falta de cajuzinho nas festas de aniversário e juízo.


Protesto por aqueles que riem alto como eu, por aquela que quase foi inimiga e hoje compartilha comigo novos caminhos e pelas piadas de trabalho. Pelas filas no cinema no feriado. Protesto pela dignidade, escadas e pela superficialidade que às vezes é boa. Protesto pela minha falta de noção, por meus problemas, minha conta bancária sempre vermelha e por aquele all star verde que minha mãe insiste em querer jogar fora.
Protesto pelos vocalistas, tocadores de ukelele e pseudo-escritores como eu. Pelos amigos que moram longe de mim, contra minhas pedras nos rins, calças coloridas e modismo em massa. Protesto por aquelas coisas que queremos tatuar, pelo cigarro acesso num dia frio e estressante.


Protesto por aqueles que gostam dos mesmos filmes que eu, que sentem como eu sinto. Protesto pela paçoquinha que me satisfaz mais que a barra de chocolate, pela comida da minha vó e por não saber atender o celular na hora.


Protesto por você que espera um futuro bom, você que alimenta sonhos e os constrói. Protesto por não saber fazer trança, andar de bicicleta e não ser canhota. Por não escrever mais cartas, por não ver mais meus amigos como antigamente, por ter mudado tanto nos últimos anos, pelos meus 18 anos e por aquele ano que foi o melhor da minha vida.


Protesto contra o horário de verão que rouba uma hora do meu dia sem pedir licença, contra você que ama por comodismo e a favor de todos nós que temos medo de amar e quebrar a cara.


Protesto pela distância, pela saudade, perda e para que o dia tenha mais que 24 horas. Pelo sol não ter aparecido no dia que iríamos à praia, pela felicidade da minha família e por brinquedos sensacionais para meus primos. Protesto para ter mais tempo com a minha prima, mais alguns minutos para dormir e mais anéis e vestidos. Mais recados, e-mails, sms e conversas pelo messenger. Mais apelidos, mais bandas boas, mais coletâneas. Protesto contra a gripe, matemática e sentimentos falsos.


Protesto por nós que queremos ser ouvidos na multidão, pelos dias de ócio e manias novas. Por aquele que ainda gosta de mim depois de tanto tempo e por não poder ser recíproca a ele. Pelo meu sarcasmo matinal e meus cabelos despenteados.


Protesto pela falta de shows bonitos e pela falta de pintas no meu corpo (quero mais, muito mais). Pelo preço absurdo daquele jogo, pela internet que insiste em cair e pelas madrugadas vendo “Vila Sésamo”. Pela necessidade de falar, por não saber abraçar e escrever cartões de natal.


Eu protesto por todas as 
coisas que me fazem feliz e por todas as coisas que fazem qualquer pessoa da minha vida sorrir. Protesto contra qualquer um que nos queira mal, contra remakes mal feitos e ciúmes. Protesto para ter mais tempo para cantar, ter mais inspiração e livros. Para poder comer a sobremesa antes, comer pipoca no café da manhã e para nunca envelhecer.
Por todas as palavras, ligações, segredos, passados, presentes, futuros, festas de aniversário, sentimentos, shows, filmes e vinis raros. Protesto pra sorrir mais, ser mais leve, pra falar menos palavrão e conhecer mais lugares. Protesto pelas músicas dos amantes, rodas de ciranda e conversas pela madrugadas. Protesto para que tenhamos a história mais linda já escrita, para que sejamos eternos e para que óculos escuros e cachecóis estejam sempre na moda.

Protesto por mim, por você, por ela, por ele, pelos meses, pelo tempo, sextas-feiras e futebol. Protesto para que nossos dias dourados nunca acabem. Protesto. E, sobretudo, pela delicadeza.

p.s. da narradora:
protesto para que esses dias durem para sempre.

Protestem hoje,
@PriiiG

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chuva e alguma linguagem


Hoje, o Decepção conta com uma participação linda, da nossa querida amiga distante (mas nunca ausente) Sandrine Faria, que está longe de nós mas sempre presente com sua poesia, conselhos, sarcasmo e amizade.
Porque não podemos nos abraçar quando é preciso, mas tendo um texto dela aqui no Decepção já diminui a distância.

Uma das coisas mais bonitas que já li sobre o amor e a chuva. Deixo vocês meus lindos leitores com a querida Sandrine

@PriiiG






Era mais uma dessas manhãs que começam chovendo e quando a gente acorda implora pra continuar assim o dia todo. Chovia, chovia, uma chuva calma, porém incessante. Como de costume, fui até a varanda, sentei-me ao banco, acendi um cigarro e fiquei apreciando toda aquela água desaguar. Ver a água cair é um espetáculo à parte e totalmente impagável. Se um dia alguém tentar pagar o que se sente quando a chuva cai não encontrará uma única moeda. E o céu nublado, cinza, coisa mais linda. Dias cinzas são os mais alegres. E sempre que o dia está cinza eu repito "Quero dias cinzas todos os dias".


Só havia eu e o vento, e agora alguns passos. Veio em minha direção, cabelos ao vento, camisa larga, sem calças e com uma tal calma. Já não sabia mais se ouvia o vento ou a sua respiração. Sentou-se sem dizer uma só palavra ao meu lado, encostou a cabeça no meu ombro enquanto eu olhava para o horizonte e consumia o cigarro. Não me movi, não se moveu, ficamos ali apenas. Tomou o cigarro da minha boca e riu. Abaixou a cabeça, deu a última tragada possível e o jogou. Eu fiquei olhando, era a coisa mais dócil a se fazer. E rimos. Voltei ao meu estado inicial de fixação no horizonte molhado de chuva, passou os braços pela minha cintura e voltou a colocar a cabeça em meu ombro. Retribui e inclinei a cabeça sobre aquela que estava a me fazer peso ao ombro esquerdo.


- Já viu em outro lugar algo mais lindo? - Perguntei.
-Refere-se à que? À chuva ou à paisagem?
-O conjunto.
-E quanto dura o seu sempre?

-Meu sempre é a vida toda.
-Vai viver a vida toda na chuva?
-Eu disse "Essa água que cai será você um dia a me inundar de alegria", mas não quero um dia, quero todos os dias.
-Espero que a máquina de secar roupas sobreviva.


Rimos e rimos. Só haviam palavras dóceis ali. Jamais, em momento algum, havia ausência de calma ou qualquer tipo de alteração de ânimos. Sempre havia o mesmo padrão na expressão, nem excessiva, nem ausente, na neutralidade. Aos olhos alheios, tudo o que disséssemos seriam sempre diálogos frios, mas para nós eram os mais elaborados. 


-Vai querer ser minha chuva ou vou ter que morar no chuveiro?
-Se você não gripar, nem ficar o dia todo na cama por causa disso, serei a sua chuva
-Mas e se eu ficar na cama, hein?
-Aí a gente fica por lá, que tal?
-E daí você vai chover todos os dias na minha cama?
-Vou pensar... - Olhou me rindo e abaixou a cabeça. 


Tomei-lhe as mãos, me coloquei frente à face, e abraçei-lhe. Era do tipo de abraço que nenhum algodão seria o mais confortável. Aquele abraço que dá vontade de esquecer a casa e querer morar nele. Era o abraço que dava vontade de querer morar dentro daquele ser só pra jamais ousar se perder em outros braços. 


-Por favor, não me venha com dias ensolarados, eu quero que seja meu céu cinza - Eu disse
-Sem nenhuma claridade, prometido.
-Sem ironias, quero que seja todas as minhas hipérboles.
-Você nem precisa de mim pra isso, já é a hipérbole em pessoa -Falou rindo.
-Minhas hipérboles são dignas do nome somente quando se referem à você, caso contrário se tornam dramas frustrados.
-Serei, então, todas as suas hipérboles, e dramas, e ironias ...
-E meus gerundismos!
-Por que quer que eu seja seus gerundismos?
-Quero que seja meus gerundismos pra dizer que estou chorando, rindo, me desfazendo, derretendo, fortalecendo, enfraquecendo, me apaixonando e amando a cada dia mais você.


Vi naqueles olhos uma ameaça de lágrimas, mas se conteve, e me deu um riso. Porém, um riso que queria chorar de uma certa alegria. E ainda chovia, chovia, mas naquelas olhos não chovia, só uma espécie interminável de alegria. E abraçou-me, quis praticar meu gerundismo me derretendo, me desfazendo, me apaixonando.


-Fiz o café do jeito que gosta.
-Forte e doce?
-Exatamente. E acho melhor ir tomar antes que esfrie.
-Café nunca é o mesmo depois de aquecer, porém o amor é único que esfriando ou aquecendo continua o mesmo
-Só perde o gosto
-Só perde o gosto o amor que esfria ou esquenta se não é amor de verdade
-E o seu amor, perde o gosto?
-O meu amor é aquele que sofre, se contenta, esfria, aquece, esquece e lembra, mas continua o mesmo. E o seu?
-Sem mais, eu amo você e o seu amor.
-E eu amo você, seu amor, essa camisa e seu café.
Puxou-me pela mão, rindo, com aqueles passos leves, a pele fria e me pôs pra dentro. Fechou a porta, e chovia. Ainda bem que fechou a porta, porque depois do café eu estava querendo tomar aquela chuva na cama, com todas as hipérboles e gerundismos possíveis.

@SandrineFaria

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

photobooth



um futuro que combine com nossa trilha sonora.



Porque todos meus amigos morariam no mesmo bairro que nós, todo o dia seria dia de tomar sorvete no café da manhã e dia de você me entregar uma torta de morango com um pedido de casamento junto.

Eu cantaria todos os dias com minha amiga que compõe músicas, todo dia escreveríamos um livro sobre nós. A novela das 19h00 da Globo nunca terminaria, porque assim eu ficaria a eternidade assistindo a novela com a minha vó. Mais filmes clássicos reprisados pela madrugada na Tv.

Você correria atrás de mim pela casa porque eu falei mal da banda que você mais gosta. Mais vestidos, mais all star espalhados pelo meu quarto. Mais tempo na cidade vizinha com minhas amigas. Mais inspiração, dias de frio pra tomar cappuccino, mais fidelidade e mais delicadeza. Uma dose menor de tristeza.


Muitos shows daquela nossa banda favorita, mais Oscars para o Scorsese, uma estátua do Al Pacino no nosso quintal, fotos com nossos amigos, pilhas de filmes e vinis pelo corredor da nossa casa. Uma Mtv melhor, mais videoclipes bem feitos.


Mais tocadores de ukelele, mais músicos, mais filmes dos Beatles, e filmes do Elvis na Sessão da Tarde. Menos e-mails e mais ligações, mais selos, marca-textos, fones de ouvido e chuva. Mais cabines fotográficas pela cidade.


Ver o mar com mais freqüência, menos drama, menos fumaça, mais cerveja gelada. Menos problemas, mais vizinhos vegetarianos. Mais churrasco na casa dos seus pais, mais crianças jogando futebol na rua. Mais medo do escuro só pra sentir seus braços em volta de mim.
Pais ensinando os filhos a soltar pipa, menos carros e mais metrôs. Filmes europeus, todos os dias seriam sexta-feira, menos programas de auditório na televisão e mais episódios daquele seriado que todo mundo gosta.


Governo seria mais justo, ninguém teria medo da cidade e as calçadas seriam tomadas por hippies cantando Janis Joplin. Cachorros fofos pra todo mundo, sem alergias e todas as doenças seriam curadas por sorrisos. Crianças que já nasceriam tocando piano, dançando balé e desenhando como o Maurício de Sousa.


Sonho da padaria.Pizza toda terça-feira. De manhã assistiríamos os desenhos da nossa infância, retratos dos nossos ídolos pelas paredes da sala. Cheiro de café fresco à noite. A noite choveria e durante o dia o sol iria reinar só pra usarmos nossos óculos escuros.
Mais estádios de futebol, mais corridas a cavalo e parques de diversão. Uma máquina de fazer algodão doce na nossa casa, cerveja e coca-cola na nossa geladeira. Feriados prolongados, férias no sul do país, histórias engraçadas e menos conflitos. Mais motivos pra te irritar e depois fazer as pazes, músicas pra cantar debaixo do chuveiro, cabelos bonitos, sorrisos sinceros. Famílias maravilhosas. Todo ano um Natal inesquecível e um Reveillon com todos nós deitados na areia da praia olhando o outro ano nascer.


Uma nação de nerds, árvores, atores e escritores. Menos bagunça na minha bolsa, menos cartões de créditos e compromissos sérios. Mais tempo, mais tempo pra nós, nossos amigos e nossos familiares.
Mais pontes interligando as cidades. Coisas em comum, declarações de amor, documentários, menos acidentes e indecisos.

Milhões de dias ao seu lado, deitada no seu colo enquanto você vê aquele dvd e te distraio com minha tagarelice. Mais músicas pra você me obrigar a dançar, mais folk, rock, soul. Lágrimas de felicidade, Elvis ecoando pela casa enquanto dançamos juntos no corredor.
No nosso corredor abarrotado de vinis, filmes, fotos, memórias e nós.


p.s. da narradora:
pra nós que vivemos de acordo com a nossa trilha sonora que vai de Elvis a Death Cab for Cutie.


Escolham uma trilha sonora hoje,
@PriiiG



terça-feira, 5 de outubro de 2010

Assim





A gente nunca acha que as coisas podem acontecer conosco do mesmo modo que acontecem nos filmes, a gente acha que aquele menino (ou menina) perfeito vai simplesmente aparecer na sua escola, ou escolher o mesmo livro que você na biblioteca e que vocês viverão, a partir dali, uma linda história de amor com uma trilha sonora de tirar o fôlego e ângulos de câmera que fariam até o mais chato dos críticos de cinema chorar de emoção.

A gente pensa que tudo vai ser lindo e perfeito, que o seu cabelo vai ficar arrumado tempo o suficiente e NUNCA se desfazer com a umidade ou com a garoa, que o seu vestido favorito não vai estar secando no varal justamente quando você mais precisa dele. A gente nunca acha que vai estar com cólica no primeiro encontro.

Mas a gente fica.

Porque as coisas são assim.

A vida é assim.

São nessas horas que a gente sofre na pele com o humor negro e ambíguo de Deus, são nessas horas que a gente quer chorar, se enfiar debaixo das cobertas e morrer de ódio. Nessas horas a gente tem vontade de cancelar tudo e mandar todo mundo ir à merda e são nessas horas que os piores pensamentos passam na nossa cabeça.

“Ele deve ter uma namorada e eu sou a outra!”

“Ele vai me achar uma otária”

“Ele só quer ser meu amigo”

“Ele é gay”

A gente vacila, sente frio na barriga, tremor nas pernas e revisa mentalmente o que dizer tantas vezes que no final acaba nem dizendo. É quando você o menino dos seus sonhos indo embora e o seu amigo te cotovela a costela com um olhar de alarde e indignação, é quando um lado seu te esbofeta na cara e te manda ser homem, mas mesmo assim seus pés não conseguem sair do lugar e você tenta ao máximo disfarçar o nervosismo e não parecer uma completa idiota.

Por vezes a gente consegue entender porque é tão difícil falar com certas pessoas.

Todo mundo diz que viver é difícil e eu concordo com isso, não é simples explorar cada sentimento dentro de você, não é fácil adquirir experiências que dariam um livro ou conhecer as pessoas mais incríveis do mundo e lembrar o nome de cada uma delas, viajar o mundo e principalmente sair da zona de conforto. Mas encontrar alguém pra fazer tudo isso com você é a coisa mais complicada de todas.

Portanto não se deixe vencer por uma garoa, prenda os cabelos num coque. Choveu? Tome um banho de chuva e dance como Gene Kelly, se o seu vestido favorito esta secando use uma saia e a sua camiseta de banda predileta e quanto a cólica, peça carinhos e afagos. Que ele cuide de você assim como você vai cuidar dele.

Porque as coisas são assim.

Porque a vida é assim.

Porque o amor acontece assim.





@Kuro_N3ko

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Direito de voto obrigatório




Quando pequena eu sempre acompanhei meus pais em dia de votação, mas nunca entendi porque eles sempre acordavam mal humorados nesses dias.
Era só apertar aqueles botões, ai aparecia a foto de alguém e depois fazia um barulhinho. certo?
Foi assim que pensei por muito tempo, que não tinha nada demais em sair de casa para votar em alguém.
Até o dia em que tirei meu título. Eu tinha apenas 17 anos e pouco conhecimento de política. Mas essa última eleição foi diferente. Eu finalmente havia entendido o mal humor que todos carregavam no dia de apertar os botõezinhos.




Eu nunca critiquei com fervor o governo Lula, pois só passei a me importar realmente com política esse ano. Antes eu deixava isso para os mais velhos que já estavam calejados de tanto reclamar da ordem do país.

Outra coisa que sempre tive foi orgulho do meu estado.
Patriota de coração e alma nunca quis trocar São Paulo por nenhum outro lugar do Brasil.
Porém o que aqui tem de bom, tem de decepcionante.
Não consigo entender como um estado elege um Deputado Federal com 1,351 milhões de votos sendo que ele nem se importou de tirar a fantasia no horário político e acha isso bonito, sendo que ninguém é inocente o suficiente pra não perceber toda a jogada por trás do cara dançando vestido de otário. Que nada mais era do que ganhar votos pra que 'Lex Luthor's' entrem no poder, pois os mesmos não conseguiriam sem ter um marketing a sua frente.
O palhaço será apenas mais uma cadeira a ocupar entre tantas outras que não fazem diferença alguma na regência do país.
É nessas horas que qualquer orgulho cai por terra e você deseja não ter gasto o seu tempo tentando fazer parte da história do seu estado.
Então se você acreditou em tudo que foi dito na TV, parabéns! Você merece uma torta na cara.
Afinal... " - O que um Deputado Federal faz? Eu também não sei ". Pergunta pra quem votou nele.

Não vou discutir preferência, nem fazer cara feia para o voto dos outros.
Somos um país livre.
Mas há algum tempo eu uso uma frase que agora cai muito bem:
- Eu sou brasileira e já desisti.

Então pra você, meu bom brasileiro que assim como eu, sabe que esse lugar vai mais além do que futebol e carnaval, sabe que no ritmo que está essa locomotiva vai enferrujar nos trilhos.

Não quero fazer papel de revolucionária. Longe disso, deixo essa parte pra quem realmente entende do assunto.

Ontem fiz uso do meu direito de voto obrigatório no país que tem orgulho da própria democracia.

Essa é a decepção que mata, engorda, cobra imposto e ainda tira foto dando "joinha".
Brasil. Eu desisto de você por enquanto.
Assim como eu, você ainda tem muito a aprender.
Quando você crescer mais um pouco e colocar as idéias no lugar e virar um cidadão digno voltarei para os seus braços.


Cheers my brasilian fellas
@JessyMclovin

domingo, 3 de outubro de 2010

Vilarejo Impossível

O Decepção está recebendo uma visita muito especial hoje. De uma leitora antiga do blog. Ela é jovem, mas tem uma alma grande. Sem contar os textos sempre muito bons.
Hope you guys enjoy it.

xoxo
@JessyMcLovin







Gostaria de lembrar que hoje não tenho caminho, sou livre para voar como o bonito passarinho.
Já me prenderam com muitas cordas, mas consegui me libertar, parece que não tem jeito, eu irei onde você está.
Juntos poderíamos pintar todas as manhãs, fazer crescerem as árvores, saborear todos os romãs.
Esse campo é bonito, mas chegou a hora de partir. De mãos dadas, correndo pela grama, eu te olho e você sorri.

Em plena Europa fomos parar, lembra que eu lhe disse que à França poderíamos chegar?
Vejo bicicletas, cafeterias e muitas luzes.
Estou ficando nostálgica agora, lembrei de minhas Susi’s.
Sentir o seu abraçado é dar paz ao meu espírito, espere, onde vamos?
Eis aqui o Egito. Não tenho medo de mistérios, por que não desvendar?
Você sabe que se chegar a resposta certa, o meu coração eu irei lhe dar.

Como é frio aqui de noite! Meu calor está perdido, feche os olhos meu amor, pois estamos no Reino Unido.
Grandes palácios aqui eu encontrei, segure minha mão, hoje podemos ser rainha e rei.
As horas eu vi em um relógio gracioso.
Também ouvi um quarteto, tinham mais que um talentoso!
Entramos então em uma cabine vermelha, para quem está ligando?
Oh, acorde meu amor, você só está sonhando.

- @Rahlovesit.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Here comes the sun





Ela ainda não sabe, mas em exatamente três meses irá conhecê-lo.

Ele será diferente de muitos garotos e terão muito em comum.
Falarão sobre música, preferências e sobre a vida.
Ela fará muitas perguntas bobas e ele sempre irá responder com muita paciência.
Eles terão a mesma idade e moraram em cidades diferentes.
Irão se falar quase todo dia e com o tempo vão se acostumar a idéia de que serão grandes amigos.
Ela irá mudar o corte de cabelo e ele crescerá muitos centímetros.
Ainda usarão all star e jaqueta nos dias frios e terão o mesmo tom de pele.
Eles irão falar pouco sobre as pessoas que convivem com eles, mas falarão muito sobre si mesmos.
Ela gostará muito dele e pensará nele muitas vezes no dia.

Com o passar do tempo terão um pouco mais de idade e surgirá a insônia. Tomarão café e se falarão um pouco menos e por fim chegará 2007, quando perderão contato.

Ela terá uma vida feliz e cheia de bons amigos. Ele irá ter algumas namoradas e cortará o cabelo, até que não saberão mais nada um do outro.
Ela vai lembrar dele várias vezes durante a semana e vai desejar que ele esteja bem.
As vezes vai se perguntar porque não se falaram mais ou se ele ainda lembra dela.

Conforme o tempo for passando só existirá uma vaga lembrança daquelas conversas que costumavam ter. Até que um dia a saudade no coração dela falará tão alto que ela tentará conversar com ele apenas mais uma vez.
E quando 2010 finalmente chegar eles voltaram a se falar.
Vão relembrar tudo e tentarão matar a saudade contando tudo o que aconteceu nesse tempo que ficaram distantes.
Será divertido e ela se sentirá feliz por ele ter voltado a seus dias.
Como estarão mais velhos e com novos pesos nos ombros tudo o que tinham em comum se multiplicará e se perguntarão porque ficaram tanto tempo distantes.

De tanto conversarem ela descobrirá que ainda gosta dele.
Ele terá mudado mais do que ela pensava. No lugar da jaqueta rotineira ele carregará tatuagens e um cabelo muito mais curto. Ela carregará tatuagens novas, porém os mesmos tênis surrados ainda a acompanharão.

Ela logo saberá que no começo da primavera ele irá visita-lá.
Que a saudade foi grande demais e a presença da ausência não foi forte o suficiente para mantê-los longe.
Eles irão se perder no centro de São Paulo e todas as amigas dela vão adorá-lo.
Vão acordar tarde demais e perder a Fórmula 1 no domingo de manhã mas assistirão o futebol mais a tarde.
Ele tocará 'Just Breathe' no violão e contará muitas estórias. Assistirão Cassino Royale, pois ela só entenderá o filme se ele explicar as cenas.
Ele tentará ensinar ela a tocar 'Wish You Were Here' enquanto ela se esforçará para conseguir fazer apenas uma nota.
Das tardes de primavera ele terão memórias e não mais lembranças de cenas que nunca aconteceram.
Discutirão sobre 'De Volta Para O Futuro' enquanto ele contará que tem uma coleção enorme de miniaturas e que em dias de insónia ainda brinca com elas e ela brigará com ele toda vez que ele acender um cigarro.

Ele sempre terá medo do pai dela e sempre será gentil com a mãe e a irmã dela.
Farão casinha de waffles e a única discussão que irão ter será sobre qual sabor de pizza pedir.
Ela fingirá que torce para o time dele em dia de jogo e ele assistirá aos filmes ruins que só ela gosta pra fazê-la feliz, mesmo sabendo que ela sempre dorme no final.

E ela gastará quantas horas ou dias forem necessários até conseguir escrever um texto bom o suficiente para contar tudo isso quando cada uma dessas coisas acontecer, só para ver ele sorrir lendo algumas das linhas.

Logo eles saberão de tudo isso.

O que eles não sabem é que em exatamente três meses o começo desse primeiro capítulo completará 6 anos.


Farewell my good fellas
@JessyMcLovin

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

she & him


your lips touching mine in the photobooth.



Eles não sabem disso, mas estão apaixonados.
Eles não sabem, mas acordam e dormem juntos todos os dias. Ela imagina todos os dias conversas pelo telefone com ele. Ele pensa nela enquanto se afunda em pilhas de papéis no escritório.

Ele é calmo, ponderado. Ela não, ela chega explodindo emoções, falando sem pensar. Ele gosta desse jeito dela, e ela gosta de poder ser assim com ele. Ele gosta do humor dela, sarcástico, mas nunca arrogante. E ela gosta do jeito que ele vê graça nas coisas mais sérias. Escrevem cartas um para o outro que nunca são entregues, falta tempo e coragem.

Ele idolatra aquele que ela odeia. Ela gosta de se apaixonar por ele quase todos os dias. Os livros dela carregam a presença ausente dele e as músicas dele carregam a presença ausente dela. Ela sonha com ele. Ele imagina situações com ela.

Ele amou primeiro, ela em seguida.

(Mas ele sabe que ela nunca quebraria seus vinis por ele. Ele sabe disso, e não faria o mesmo por ela. O gostar um do outro vai além de pedaços de vinis pelo chão.)

São compatíveis na política, mas não no futebol- o que gera discussões que ele adora. Ele nas horas vagas torna-se o herói dela, tirando-a do tédio ou de perto de qualquer um que lhe queira mal. Ela por outro lado, causou uma revolução na vida dele e gosta de pensar nele como o garoto que ela conseguiu mudar, pra melhor e somente pra ela. Ele escolheu uma música para sempre se lembrar dela. Ela todas as noites antes de dormir inventa histórias com ele. Ele gosta de Coca-Cola e ela de Heineken. Ele gosta das tatuagens dela. Ela gosta dos óculos escuros dele. Ele gosta do jeito que ela escreve. Ela gosta do jeito que ele fala.

Ele faz o papel de sonhador e ela continua com os pés no chão. Ele sempre pergunta como foi o dia dela e ela gosta do jeito como ele fala do avô dele. Ele descreve um futuro para eles e ela se figura nesse futuro sem dificuldades.

Não fazem promessas, nem rotinas, nem ligações e muito menos poemas. São superficiais, altruístas, gostam dos mesmos livros, filmes e bandas. Possuem as mesmas manias. Sofrem pelos desencontros e sabem que poderiam muito bem se odiar.

Não sabem amar normalmente.
E nem querem.
E assim sem saber, ele e ela possuem um relacionamento. Ele na cidade que os vagalumes dançam a noite e ela na cidade das luzes ofuscantes.

p.s. da narradora:
você me deve uma dança.

Continuem bonitos na primavera,


Pri Gordon.

- @PriiiG