terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mamihlapinatapai


Sea Green, See Blue by Jaymay on Grooveshark

 Ela não tinha uma vida medíocre. Eu acredito...
Não estava longe dos 30 mas não estava mais perto dos 20 também.
Tinha um emprego bom, porém nunca conseguia pagar suas contas. 19 horas do seu dia eram consumidas por afazeres e as outras 5 horas ela tentava dormir.
Dessas 5 horas tentando dormir apenas 3 eram bem sucedidas.

Levava seus dias baseados na rotina que há 7 anos a consumia. Quase nunca tinha tempo pra encontrar com os amigos ou mesmo pra sentar e assistir a algum filme.
Não tinha olheiras porque no caminho para o trabalho as escondia com uma boa camada de maquiagem.
Sempre foi muito atraente, mas nunca teve muito tempo pra namorar. Dizia que era bom manter uma distância confortável de qualquer coisa que pudesse quebrar seu coração.

Aos 18 anos abandonou o que mais amava fazer, escrever. Na mesma época que começou a trabalhar.
E guardou uma frase dita a ela em um dia de muita correria no trabalho:
- Você abandonou a arte pela burocracia.
E naquele momento ela sabia que estava em um caminho sem volta.
Sem coragem pra mudar, sem tempo pra viver, sem vontade de tentar algo diferente.

Em uma quarta-feira, ela acordou atrasada como sempre, vestiu a primeira roupa que encontrou e saiu às pressas de casa. Nesse dia ela não teve tempo de fazer a maquiagem costumeira pra esconder as olheiras e nem tomou o café que a fazia despertar mais rápido.

Ainda no metro a caminho para o trabalho ela lia o mesmo livro pela terceira vez.
De repente as luzes se apagaram e tudo parou.

- Hoje é meu dia de sorte. Metro sem energia só pode ser brincadeira. - ela murmurou com os olhos ainda fixos no livro.

Passado mais de vinte minutos todos os passageiros estavam começando a ficar sem paciência, ela principalmente. Até que lembrou que estava com o seu Ipod na bolsa e isso seria a salvação daqueles minutos infinitos.

Deu play na primeira música do Velvet Underground que conseguiu achar na sua playlist. Agora aquele momento estava menos ruim.
Começou a observar o rosto das pessoas, um mais mal humorado que o outro.
Exceto um, ele era realmente muito atraente, alguém não mais velho que 24 anos mesmo tendo a barba por fazer e roupas um tanto quanto relaxadas.
Ele tinha a aparência de calmo e aquela serenidade a hipnotizou por alguns minutos. Até que ela percebeu que ele também a estava olhando e logo ruborizou. Parou de olhar pra ele e voltou para o seu livro.


Ela sentiu alguém sentar do seu lado, era ele.
Todo gentil puxou conversa sobre o que ela estava ouvindo. Velvet Underground era a banda favorita dele. Conversaram pelos próximos 15 minutos sobre tudo o que vinha a cabeça. Tinham muito em comum e o sorriso dele era algo inédito pra ela, nunca tinha visto um tão bonito.
Trocaram telefones e o metro voltou a funcionar. Ele ligou pra ela no mesmo dia e marcaram de sair na próxima semana. Passaram o resto do dia a lembrar um do outro.

Ela nunca tinha encontrado alguém tão perfeito assim e o começo do namoro foi inevitável. Descobriram que o amor estava surgindo entre eles e que só aquilo importava.
Depois de dois anos alugaram um casa e começaram a morar juntos e cinco anos depois do acaso do Metro o amor deles não diminuiu. Ainda ouvem músicas juntos e nunca falta assunto.




Mas não foi isso que aconteceu, na verdade assim que ele olhou pra ela durante aqueles segundos o metro voltou a funcionar.
As portas abriram, ela colocou o livro na bolsa e saiu em direção ao trabalho.
Ele olhou pra ela através da janela, enquanto ela sumia em meio as outras pessoas. Ele desceu 5 estações a frente.
E nunca mais se viram.





Mamihlapinatapai na língua dos índios yámanas, que habitavam a região da Terra do Fogo na Argentina, que traduz o momento em que duas pessoas se olham, ambas esperando que a outra inicie algo que desejam muito, mas nenhuma tem coragem de começar.



Cheers
@JessyMcLovin

terça-feira, 19 de outubro de 2010

pela delicadeza.

novas cores, amores e novas canções.

Modern Nature by Sondre Lerche on Grooveshark



Protesto pela delicadeza. Pela música que não tocou naquele show, pela calça jeans que estava cara demais. Protesto por não saber falar de política, por não ser um pouco mais alta. Por não poder ter um cachorro e sempre demorar pra me arrumar.

Protesto para que as pessoas entendam meu sarcasmo, minha carência e minha sinceridade. Protesto por aqueles que observam em silêncio, pelos desenhos da minha infância que não passam mais na TV, pela falta de cajuzinho nas festas de aniversário e juízo.


Protesto por aqueles que riem alto como eu, por aquela que quase foi inimiga e hoje compartilha comigo novos caminhos e pelas piadas de trabalho. Pelas filas no cinema no feriado. Protesto pela dignidade, escadas e pela superficialidade que às vezes é boa. Protesto pela minha falta de noção, por meus problemas, minha conta bancária sempre vermelha e por aquele all star verde que minha mãe insiste em querer jogar fora.
Protesto pelos vocalistas, tocadores de ukelele e pseudo-escritores como eu. Pelos amigos que moram longe de mim, contra minhas pedras nos rins, calças coloridas e modismo em massa. Protesto por aquelas coisas que queremos tatuar, pelo cigarro acesso num dia frio e estressante.


Protesto por aqueles que gostam dos mesmos filmes que eu, que sentem como eu sinto. Protesto pela paçoquinha que me satisfaz mais que a barra de chocolate, pela comida da minha vó e por não saber atender o celular na hora.


Protesto por você que espera um futuro bom, você que alimenta sonhos e os constrói. Protesto por não saber fazer trança, andar de bicicleta e não ser canhota. Por não escrever mais cartas, por não ver mais meus amigos como antigamente, por ter mudado tanto nos últimos anos, pelos meus 18 anos e por aquele ano que foi o melhor da minha vida.


Protesto contra o horário de verão que rouba uma hora do meu dia sem pedir licença, contra você que ama por comodismo e a favor de todos nós que temos medo de amar e quebrar a cara.


Protesto pela distância, pela saudade, perda e para que o dia tenha mais que 24 horas. Pelo sol não ter aparecido no dia que iríamos à praia, pela felicidade da minha família e por brinquedos sensacionais para meus primos. Protesto para ter mais tempo com a minha prima, mais alguns minutos para dormir e mais anéis e vestidos. Mais recados, e-mails, sms e conversas pelo messenger. Mais apelidos, mais bandas boas, mais coletâneas. Protesto contra a gripe, matemática e sentimentos falsos.


Protesto por nós que queremos ser ouvidos na multidão, pelos dias de ócio e manias novas. Por aquele que ainda gosta de mim depois de tanto tempo e por não poder ser recíproca a ele. Pelo meu sarcasmo matinal e meus cabelos despenteados.


Protesto pela falta de shows bonitos e pela falta de pintas no meu corpo (quero mais, muito mais). Pelo preço absurdo daquele jogo, pela internet que insiste em cair e pelas madrugadas vendo “Vila Sésamo”. Pela necessidade de falar, por não saber abraçar e escrever cartões de natal.


Eu protesto por todas as 
coisas que me fazem feliz e por todas as coisas que fazem qualquer pessoa da minha vida sorrir. Protesto contra qualquer um que nos queira mal, contra remakes mal feitos e ciúmes. Protesto para ter mais tempo para cantar, ter mais inspiração e livros. Para poder comer a sobremesa antes, comer pipoca no café da manhã e para nunca envelhecer.
Por todas as palavras, ligações, segredos, passados, presentes, futuros, festas de aniversário, sentimentos, shows, filmes e vinis raros. Protesto pra sorrir mais, ser mais leve, pra falar menos palavrão e conhecer mais lugares. Protesto pelas músicas dos amantes, rodas de ciranda e conversas pela madrugadas. Protesto para que tenhamos a história mais linda já escrita, para que sejamos eternos e para que óculos escuros e cachecóis estejam sempre na moda.

Protesto por mim, por você, por ela, por ele, pelos meses, pelo tempo, sextas-feiras e futebol. Protesto para que nossos dias dourados nunca acabem. Protesto. E, sobretudo, pela delicadeza.

p.s. da narradora:
protesto para que esses dias durem para sempre.

Protestem hoje,
@PriiiG

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chuva e alguma linguagem


Hoje, o Decepção conta com uma participação linda, da nossa querida amiga distante (mas nunca ausente) Sandrine Faria, que está longe de nós mas sempre presente com sua poesia, conselhos, sarcasmo e amizade.
Porque não podemos nos abraçar quando é preciso, mas tendo um texto dela aqui no Decepção já diminui a distância.

Uma das coisas mais bonitas que já li sobre o amor e a chuva. Deixo vocês meus lindos leitores com a querida Sandrine

@PriiiG






Era mais uma dessas manhãs que começam chovendo e quando a gente acorda implora pra continuar assim o dia todo. Chovia, chovia, uma chuva calma, porém incessante. Como de costume, fui até a varanda, sentei-me ao banco, acendi um cigarro e fiquei apreciando toda aquela água desaguar. Ver a água cair é um espetáculo à parte e totalmente impagável. Se um dia alguém tentar pagar o que se sente quando a chuva cai não encontrará uma única moeda. E o céu nublado, cinza, coisa mais linda. Dias cinzas são os mais alegres. E sempre que o dia está cinza eu repito "Quero dias cinzas todos os dias".


Só havia eu e o vento, e agora alguns passos. Veio em minha direção, cabelos ao vento, camisa larga, sem calças e com uma tal calma. Já não sabia mais se ouvia o vento ou a sua respiração. Sentou-se sem dizer uma só palavra ao meu lado, encostou a cabeça no meu ombro enquanto eu olhava para o horizonte e consumia o cigarro. Não me movi, não se moveu, ficamos ali apenas. Tomou o cigarro da minha boca e riu. Abaixou a cabeça, deu a última tragada possível e o jogou. Eu fiquei olhando, era a coisa mais dócil a se fazer. E rimos. Voltei ao meu estado inicial de fixação no horizonte molhado de chuva, passou os braços pela minha cintura e voltou a colocar a cabeça em meu ombro. Retribui e inclinei a cabeça sobre aquela que estava a me fazer peso ao ombro esquerdo.


- Já viu em outro lugar algo mais lindo? - Perguntei.
-Refere-se à que? À chuva ou à paisagem?
-O conjunto.
-E quanto dura o seu sempre?

-Meu sempre é a vida toda.
-Vai viver a vida toda na chuva?
-Eu disse "Essa água que cai será você um dia a me inundar de alegria", mas não quero um dia, quero todos os dias.
-Espero que a máquina de secar roupas sobreviva.


Rimos e rimos. Só haviam palavras dóceis ali. Jamais, em momento algum, havia ausência de calma ou qualquer tipo de alteração de ânimos. Sempre havia o mesmo padrão na expressão, nem excessiva, nem ausente, na neutralidade. Aos olhos alheios, tudo o que disséssemos seriam sempre diálogos frios, mas para nós eram os mais elaborados. 


-Vai querer ser minha chuva ou vou ter que morar no chuveiro?
-Se você não gripar, nem ficar o dia todo na cama por causa disso, serei a sua chuva
-Mas e se eu ficar na cama, hein?
-Aí a gente fica por lá, que tal?
-E daí você vai chover todos os dias na minha cama?
-Vou pensar... - Olhou me rindo e abaixou a cabeça. 


Tomei-lhe as mãos, me coloquei frente à face, e abraçei-lhe. Era do tipo de abraço que nenhum algodão seria o mais confortável. Aquele abraço que dá vontade de esquecer a casa e querer morar nele. Era o abraço que dava vontade de querer morar dentro daquele ser só pra jamais ousar se perder em outros braços. 


-Por favor, não me venha com dias ensolarados, eu quero que seja meu céu cinza - Eu disse
-Sem nenhuma claridade, prometido.
-Sem ironias, quero que seja todas as minhas hipérboles.
-Você nem precisa de mim pra isso, já é a hipérbole em pessoa -Falou rindo.
-Minhas hipérboles são dignas do nome somente quando se referem à você, caso contrário se tornam dramas frustrados.
-Serei, então, todas as suas hipérboles, e dramas, e ironias ...
-E meus gerundismos!
-Por que quer que eu seja seus gerundismos?
-Quero que seja meus gerundismos pra dizer que estou chorando, rindo, me desfazendo, derretendo, fortalecendo, enfraquecendo, me apaixonando e amando a cada dia mais você.


Vi naqueles olhos uma ameaça de lágrimas, mas se conteve, e me deu um riso. Porém, um riso que queria chorar de uma certa alegria. E ainda chovia, chovia, mas naquelas olhos não chovia, só uma espécie interminável de alegria. E abraçou-me, quis praticar meu gerundismo me derretendo, me desfazendo, me apaixonando.


-Fiz o café do jeito que gosta.
-Forte e doce?
-Exatamente. E acho melhor ir tomar antes que esfrie.
-Café nunca é o mesmo depois de aquecer, porém o amor é único que esfriando ou aquecendo continua o mesmo
-Só perde o gosto
-Só perde o gosto o amor que esfria ou esquenta se não é amor de verdade
-E o seu amor, perde o gosto?
-O meu amor é aquele que sofre, se contenta, esfria, aquece, esquece e lembra, mas continua o mesmo. E o seu?
-Sem mais, eu amo você e o seu amor.
-E eu amo você, seu amor, essa camisa e seu café.
Puxou-me pela mão, rindo, com aqueles passos leves, a pele fria e me pôs pra dentro. Fechou a porta, e chovia. Ainda bem que fechou a porta, porque depois do café eu estava querendo tomar aquela chuva na cama, com todas as hipérboles e gerundismos possíveis.

@SandrineFaria

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

photobooth



um futuro que combine com nossa trilha sonora.



Porque todos meus amigos morariam no mesmo bairro que nós, todo o dia seria dia de tomar sorvete no café da manhã e dia de você me entregar uma torta de morango com um pedido de casamento junto.

Eu cantaria todos os dias com minha amiga que compõe músicas, todo dia escreveríamos um livro sobre nós. A novela das 19h00 da Globo nunca terminaria, porque assim eu ficaria a eternidade assistindo a novela com a minha vó. Mais filmes clássicos reprisados pela madrugada na Tv.

Você correria atrás de mim pela casa porque eu falei mal da banda que você mais gosta. Mais vestidos, mais all star espalhados pelo meu quarto. Mais tempo na cidade vizinha com minhas amigas. Mais inspiração, dias de frio pra tomar cappuccino, mais fidelidade e mais delicadeza. Uma dose menor de tristeza.


Muitos shows daquela nossa banda favorita, mais Oscars para o Scorsese, uma estátua do Al Pacino no nosso quintal, fotos com nossos amigos, pilhas de filmes e vinis pelo corredor da nossa casa. Uma Mtv melhor, mais videoclipes bem feitos.


Mais tocadores de ukelele, mais músicos, mais filmes dos Beatles, e filmes do Elvis na Sessão da Tarde. Menos e-mails e mais ligações, mais selos, marca-textos, fones de ouvido e chuva. Mais cabines fotográficas pela cidade.


Ver o mar com mais freqüência, menos drama, menos fumaça, mais cerveja gelada. Menos problemas, mais vizinhos vegetarianos. Mais churrasco na casa dos seus pais, mais crianças jogando futebol na rua. Mais medo do escuro só pra sentir seus braços em volta de mim.
Pais ensinando os filhos a soltar pipa, menos carros e mais metrôs. Filmes europeus, todos os dias seriam sexta-feira, menos programas de auditório na televisão e mais episódios daquele seriado que todo mundo gosta.


Governo seria mais justo, ninguém teria medo da cidade e as calçadas seriam tomadas por hippies cantando Janis Joplin. Cachorros fofos pra todo mundo, sem alergias e todas as doenças seriam curadas por sorrisos. Crianças que já nasceriam tocando piano, dançando balé e desenhando como o Maurício de Sousa.


Sonho da padaria.Pizza toda terça-feira. De manhã assistiríamos os desenhos da nossa infância, retratos dos nossos ídolos pelas paredes da sala. Cheiro de café fresco à noite. A noite choveria e durante o dia o sol iria reinar só pra usarmos nossos óculos escuros.
Mais estádios de futebol, mais corridas a cavalo e parques de diversão. Uma máquina de fazer algodão doce na nossa casa, cerveja e coca-cola na nossa geladeira. Feriados prolongados, férias no sul do país, histórias engraçadas e menos conflitos. Mais motivos pra te irritar e depois fazer as pazes, músicas pra cantar debaixo do chuveiro, cabelos bonitos, sorrisos sinceros. Famílias maravilhosas. Todo ano um Natal inesquecível e um Reveillon com todos nós deitados na areia da praia olhando o outro ano nascer.


Uma nação de nerds, árvores, atores e escritores. Menos bagunça na minha bolsa, menos cartões de créditos e compromissos sérios. Mais tempo, mais tempo pra nós, nossos amigos e nossos familiares.
Mais pontes interligando as cidades. Coisas em comum, declarações de amor, documentários, menos acidentes e indecisos.

Milhões de dias ao seu lado, deitada no seu colo enquanto você vê aquele dvd e te distraio com minha tagarelice. Mais músicas pra você me obrigar a dançar, mais folk, rock, soul. Lágrimas de felicidade, Elvis ecoando pela casa enquanto dançamos juntos no corredor.
No nosso corredor abarrotado de vinis, filmes, fotos, memórias e nós.


p.s. da narradora:
pra nós que vivemos de acordo com a nossa trilha sonora que vai de Elvis a Death Cab for Cutie.


Escolham uma trilha sonora hoje,
@PriiiG



terça-feira, 5 de outubro de 2010

Assim





A gente nunca acha que as coisas podem acontecer conosco do mesmo modo que acontecem nos filmes, a gente acha que aquele menino (ou menina) perfeito vai simplesmente aparecer na sua escola, ou escolher o mesmo livro que você na biblioteca e que vocês viverão, a partir dali, uma linda história de amor com uma trilha sonora de tirar o fôlego e ângulos de câmera que fariam até o mais chato dos críticos de cinema chorar de emoção.

A gente pensa que tudo vai ser lindo e perfeito, que o seu cabelo vai ficar arrumado tempo o suficiente e NUNCA se desfazer com a umidade ou com a garoa, que o seu vestido favorito não vai estar secando no varal justamente quando você mais precisa dele. A gente nunca acha que vai estar com cólica no primeiro encontro.

Mas a gente fica.

Porque as coisas são assim.

A vida é assim.

São nessas horas que a gente sofre na pele com o humor negro e ambíguo de Deus, são nessas horas que a gente quer chorar, se enfiar debaixo das cobertas e morrer de ódio. Nessas horas a gente tem vontade de cancelar tudo e mandar todo mundo ir à merda e são nessas horas que os piores pensamentos passam na nossa cabeça.

“Ele deve ter uma namorada e eu sou a outra!”

“Ele vai me achar uma otária”

“Ele só quer ser meu amigo”

“Ele é gay”

A gente vacila, sente frio na barriga, tremor nas pernas e revisa mentalmente o que dizer tantas vezes que no final acaba nem dizendo. É quando você o menino dos seus sonhos indo embora e o seu amigo te cotovela a costela com um olhar de alarde e indignação, é quando um lado seu te esbofeta na cara e te manda ser homem, mas mesmo assim seus pés não conseguem sair do lugar e você tenta ao máximo disfarçar o nervosismo e não parecer uma completa idiota.

Por vezes a gente consegue entender porque é tão difícil falar com certas pessoas.

Todo mundo diz que viver é difícil e eu concordo com isso, não é simples explorar cada sentimento dentro de você, não é fácil adquirir experiências que dariam um livro ou conhecer as pessoas mais incríveis do mundo e lembrar o nome de cada uma delas, viajar o mundo e principalmente sair da zona de conforto. Mas encontrar alguém pra fazer tudo isso com você é a coisa mais complicada de todas.

Portanto não se deixe vencer por uma garoa, prenda os cabelos num coque. Choveu? Tome um banho de chuva e dance como Gene Kelly, se o seu vestido favorito esta secando use uma saia e a sua camiseta de banda predileta e quanto a cólica, peça carinhos e afagos. Que ele cuide de você assim como você vai cuidar dele.

Porque as coisas são assim.

Porque a vida é assim.

Porque o amor acontece assim.





@Kuro_N3ko

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Direito de voto obrigatório




Quando pequena eu sempre acompanhei meus pais em dia de votação, mas nunca entendi porque eles sempre acordavam mal humorados nesses dias.
Era só apertar aqueles botões, ai aparecia a foto de alguém e depois fazia um barulhinho. certo?
Foi assim que pensei por muito tempo, que não tinha nada demais em sair de casa para votar em alguém.
Até o dia em que tirei meu título. Eu tinha apenas 17 anos e pouco conhecimento de política. Mas essa última eleição foi diferente. Eu finalmente havia entendido o mal humor que todos carregavam no dia de apertar os botõezinhos.




Eu nunca critiquei com fervor o governo Lula, pois só passei a me importar realmente com política esse ano. Antes eu deixava isso para os mais velhos que já estavam calejados de tanto reclamar da ordem do país.

Outra coisa que sempre tive foi orgulho do meu estado.
Patriota de coração e alma nunca quis trocar São Paulo por nenhum outro lugar do Brasil.
Porém o que aqui tem de bom, tem de decepcionante.
Não consigo entender como um estado elege um Deputado Federal com 1,351 milhões de votos sendo que ele nem se importou de tirar a fantasia no horário político e acha isso bonito, sendo que ninguém é inocente o suficiente pra não perceber toda a jogada por trás do cara dançando vestido de otário. Que nada mais era do que ganhar votos pra que 'Lex Luthor's' entrem no poder, pois os mesmos não conseguiriam sem ter um marketing a sua frente.
O palhaço será apenas mais uma cadeira a ocupar entre tantas outras que não fazem diferença alguma na regência do país.
É nessas horas que qualquer orgulho cai por terra e você deseja não ter gasto o seu tempo tentando fazer parte da história do seu estado.
Então se você acreditou em tudo que foi dito na TV, parabéns! Você merece uma torta na cara.
Afinal... " - O que um Deputado Federal faz? Eu também não sei ". Pergunta pra quem votou nele.

Não vou discutir preferência, nem fazer cara feia para o voto dos outros.
Somos um país livre.
Mas há algum tempo eu uso uma frase que agora cai muito bem:
- Eu sou brasileira e já desisti.

Então pra você, meu bom brasileiro que assim como eu, sabe que esse lugar vai mais além do que futebol e carnaval, sabe que no ritmo que está essa locomotiva vai enferrujar nos trilhos.

Não quero fazer papel de revolucionária. Longe disso, deixo essa parte pra quem realmente entende do assunto.

Ontem fiz uso do meu direito de voto obrigatório no país que tem orgulho da própria democracia.

Essa é a decepção que mata, engorda, cobra imposto e ainda tira foto dando "joinha".
Brasil. Eu desisto de você por enquanto.
Assim como eu, você ainda tem muito a aprender.
Quando você crescer mais um pouco e colocar as idéias no lugar e virar um cidadão digno voltarei para os seus braços.


Cheers my brasilian fellas
@JessyMclovin

domingo, 3 de outubro de 2010

Vilarejo Impossível

O Decepção está recebendo uma visita muito especial hoje. De uma leitora antiga do blog. Ela é jovem, mas tem uma alma grande. Sem contar os textos sempre muito bons.
Hope you guys enjoy it.

xoxo
@JessyMcLovin







Gostaria de lembrar que hoje não tenho caminho, sou livre para voar como o bonito passarinho.
Já me prenderam com muitas cordas, mas consegui me libertar, parece que não tem jeito, eu irei onde você está.
Juntos poderíamos pintar todas as manhãs, fazer crescerem as árvores, saborear todos os romãs.
Esse campo é bonito, mas chegou a hora de partir. De mãos dadas, correndo pela grama, eu te olho e você sorri.

Em plena Europa fomos parar, lembra que eu lhe disse que à França poderíamos chegar?
Vejo bicicletas, cafeterias e muitas luzes.
Estou ficando nostálgica agora, lembrei de minhas Susi’s.
Sentir o seu abraçado é dar paz ao meu espírito, espere, onde vamos?
Eis aqui o Egito. Não tenho medo de mistérios, por que não desvendar?
Você sabe que se chegar a resposta certa, o meu coração eu irei lhe dar.

Como é frio aqui de noite! Meu calor está perdido, feche os olhos meu amor, pois estamos no Reino Unido.
Grandes palácios aqui eu encontrei, segure minha mão, hoje podemos ser rainha e rei.
As horas eu vi em um relógio gracioso.
Também ouvi um quarteto, tinham mais que um talentoso!
Entramos então em uma cabine vermelha, para quem está ligando?
Oh, acorde meu amor, você só está sonhando.

- @Rahlovesit.