sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Entre esmaltes descascados e melissas bonitas




Ele gostava de esmalte descascado.

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Esse comentário a deixou completamente chocada, que tipo de homem não gostava de uma mão bem feita, unhas grandes e brilhantes de esmalte.

Aparentemente ele não gostava.

Era difícil olhar para ele, mesmo agora, depois de todo aquele tempo se habituando a ele, ouvir a voz e sentir o cheiro do tabaco misturado ao cheiro da pele dele.

As vezes ela o pegava a olhando. Olhando seus lábios enquanto ela falava, logo quando ele via que ela notava, ele desviava o olhar.

Os únicos elogios da parte dele haviam sido provocações, dizendo que ela era muito ‘arrumadinha’ e os toques eram sempre cutucões, tentativas de ser amigável e ao mesmo tempo engraçado.

As vezes ele tocava o pé dela quando ela estava usando melissas. As vezes ele perguntava quantas melissas ela tinha porque ele achava bonito. Ele achava bonito o pé dela.Ela nunca levou a serio seu elogio porque achava esquisito um homem gostar de seu pé.

Ele sorria de todas as besteiras que ela dizia e gostava quando ela era sarcástica, mesmo quando ela era seca.Gostava também do cabelo cheio de cachos dela

Não gostava de Beatles ou Rolling Stones, mas quando eles estavam ouvindo as musicas no celular dela, ele a respeitava e ouvia sem reclamar.Ele costumava balançar a cabeça como um lunático enquanto escutava MGMT, ou tocava bateria imaginaria sem nenhum pingo de embaraço.

Odiava falar em publico.

As vezes antes de ir embora a puxava e lhe beijava estalado na bochecha.

E algumas vezes a cumprimentava com abraços gostosos.

Então ele disse: “ Não gosto de garotas muito arrumadas e cheias de frescura” ela ficou pensando e de repente um dos poucos elogios da parte dele pareceu a ela uma critica enrustida, que ela jamais havia reparado

“Muito arrumadinha” “não gosto de garotas muito arrumadas”

Ele tentou concertar o que havia dito, dizendo que o all star dela era sujo o que mostrava fibra e caráter, mas ela não acreditou nele, ela percebeu que havia um poço de apatia que a separava dele.

Por mais que ele risse de suas piadas, olhasse para sua boca, tocasse seu pé e gostasse do cabelo dela natural. Aquilo não significava nada.

As vezes ela ficava se perguntando como seria se algum dia eles tivessem alguma coisa, seria tão... Mágico. O presentear com CDs ou livros e dizer a ele que ia querer emprestado depois. Entre os beijos ela poderia esfregar o rosto em sua barba mal feita sem se importar se ficasse com o rosto vermelho. Ela, com certeza, implicaria com ele sobre o cigarro e pediria para ele deixá-la depilar sua sobrancelha e ele lhe diria “Eu sou macho, não depilo nada!” e ela riria e ele riria em seguida.

Ah, ela poderia abraçar ele quando tivesse vontade e poderia finalmente o beijar. Como ela tinha vontade de encostar a boca na boca dele!

E ela poderia dizer que o amava e quem sabe ouvir um “Eu também te amo” em resposta.

Mas ele era tão egoísta com os próprios sentimentos, nunca dando um segundo passo, esperando dela todo sentimento que ele talvez soubesse que ela carregava. O sentimento que transbordava pelo coração dela.

E nada seria diferente, nunca! Não adiantava ela tentar imaginar como seria ter um futuro com ele.

Não havia futuro para os dois.

Existia a voz dele, os livros dele, a voz dela, os livros dela... Existia o roçar de dedos, o toque na nuca, o beijo estalado e os olhares que...Os olhares que eram tímidos o suficiente para nunca passarem de olhares.

O tempo deles acabaria e ela nunca saberia se algum dia ele havia se apaixonado por ela. Que pena.

Eu acho que eles fariam um casal brilhante.

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@TikaRipper


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