quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A ele

Esse é um texto pra lá de especial. Ele foi feito pela Mari Gondim, que é uma das primeiras leitoras do blog e a que mais se fez presente até hoje. Até se tornou amiga.
Então ter as palavras dela aqui é mais que importante, é necessário.
Espero que gostem my good fellas.
@JessyMcLovin





Bom dia, passarinho.


Quando você encontrar esta carta eu provavelmente já estarei muito longe. Clichê, não? Muito. É que eu vi um romance pra lá de açucarado na TV, deve ser por isso.

Ontem à noite, quando você me perguntou qual o motivo da minha angústia, só me veio a seguinte resposta: medo de te perder. Talvez eu apenas tenha me acostumado a ver sempre o fim do amor, talvez... Acontece que eu tenho te olhado dormir e achado isso a coisa mais linda do mundo. Tenho lembrado de ti quando escuto aquela música bonita, na viagem até a faculdade.  Tenho cozinhado! Veja só, que absurdo! Logo eu, que nunca soube preparar nem mesmo macarrão instantâneo! Eu tenho medo, passarinho! Eu morro de medo. Eu vejo você tão independente, tão dono de si, tão maduro. E eu, o que sou? Uma estudante boba que ainda acredita que pode mudar o mundo.

Você me ensinou a tocar violão, meditar, dançar, beber. Sentiu ciúmes quando eu abracei aquele amigo que você não conhecia. Pior ainda: sentiu ciúmes e agiu como adulto. Lembrando bem, você nem me disse nada, eu só percebi porque alugou Bastardo Inglórios e assistiu sozinho, nem me avisou. Eu fiquei com tanta raiva! Mas foi assim que você me mostrou que eu posso ser interessante e que os homens reparam em mim.


Eu te admiro tanto. Talvez este seja o problema da nossa relação, eu te acho imbatível. Não é que eu não te ame, é só que eu te amo demais. Eu nunca disse isso, não é? Nunca. Pensei que fosse te assustar, e veja só, eu é que fiquei apavorada. É, eu sou maluca. Na verdade, foi por isso que você se apaixonou por mim. Eu já ouvi a história um milhão de vezes: era terça-feira, você tinha acabado de aplicar uma prova na turma de História e foi até a cantina almoçar, quando viu uma moça de vestido floral comprando dez coxinhas de frango. ‘Dez coxinhas de frango? – pensou – Como essa magrela consegue?’ – Foi quando resolveu me seguir até o estacionamento (aqui eu digo: você também é doido) e me viu distribuir os salgados entre os cães vira-latas que rondavam o lugar. Desde aquele dia, não conseguiu mais parar de pensar em mim. Descobriu meu telefone com o bibliotecário (safado!) e me ligou dois dias depois. Eu nem sabia quem você era, mas aceitei o convite pra ir até a livraria no centro (e aqui eu digo: somos muito, muito doidos). Bendita livraria! Nunca mais nos largamos... até hoje.

Sabe, todos os dias pela manhã, quando você sai para trabalhar e o Allen sobe na cama, me olha com aqueles olhinhos miúdos e se enfia debaixo dos lençóis, eu penso que a nossa vida juntos tem se baseado nele de uns temos pra cá. Eu nem gostava de gatos, meu bem, eu queria um cachorro! Engraçado... Hoje, eu não trocaria o Allen por cão nenhum neste mundo. Falando nisso, eu já comprei a ração dele, mas não tive tempo de colocar no pote, deixei esta tarefa pra você.


E já que passamos aos avisos, eu queimei a sua camisa do Marx (foi sem querer!), comprei sorvete pra te abastecer durante uma semana e aluguei algumas comédias baratas pra você de distrair um pouco. Espero que não soe prepotente, mas eu sei que você vai chorar, então também comprei algumas caixas de lenços e guardei no armário do banheiro. Bem, acho que é só isso.

No mais, eu te amo. Eu te amo muito. Eu passaria o resto da minha vida com você, mas eu simplesmente me acho pequena demais, frágil demais, imatura demais. Você é o homem com quem eu tenho sonhado desde os meus doze anos. E é pra não te perder que eu te deixo.



'If I could, I would be there.'


Mari Gondim

2 comentários:

  1. Ai, a Mari como sempre... hoje e sempre, amanhã e sempre, todos os dias. O texto é leve, simples, direto. De tão leve a gente acredita até o final que o desenrolar não vai ser triste. Mas tem um gostinho feliz na tristeza...

    ResponderExcluir
  2. Sempre tem, Sayo. Até o que é triste tem lá sua beleza.

    ResponderExcluir